terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Araripe Coutinho


Araripe Coutinho
Por Osmário Santos, em 03/01/2013.

Chego à sua casa bem cedo. O poeta costuma acordar às cinco e meia da manhã. Mora no bairro centenário Industrial, bem de frente pra o rio Sergipe, onde passeia com seu labrador Brado, um cão que só falta falar, mas não late de jeito nenhum. “Ele é francês, fino”,diz Araripe meio ainda sonolento, convidando para o café já à mesa, onde dona Rita serve. “Ela não sabe fazer um ovo, diz ele, mas é tão gente fina, que vai ficar comigo até quando quiser”.Araripe vive numa casa imensa, cercada por obras de arte e antiguidade por todos os lados, tem telefone vermelho no chão, Oscar Wilde pelos sofás e Paulo Francis como bíblia no seu gabinete onde escreve a coluna diária aqui no JORNAL DA CIDADE.
  
Detalhes

O jardim é todo feito por ele. Tem uma banheira enorme a céu aberto e agora mandou fazer um banheiro no meio das plantas à la Clodovil, onde vai poder ver os beija-flores enquanto usa o toalete. Tudo é inusitado. Fotos de Clodovil e amigos na parede, Hilda Hilst em coleção e muitas revistas de todos os naipes. “Sou apaixonado por jornal, por design gráfico”. Adora a força editorial brasileira, dos livros aos periódicos, e puxa um monte de revista que vão da Mag de Mauro Borges à Vogue Francesa e Piauí e todas de Joyce Pascowitch, além da Caros Amigos, da Florense. “A Florense é um luxo”, diz afetado.Ele recebe muitos livros e publicações por dia: “Todo mundo quer que eu dê opinião. Eu adoro”, diz. Atualmente trabalha revisando o livro do Projeto “Florescer”, do Ministério Público Estadual, onde é voluntário e ensina as presas a escrever. “É um trabalho lindo da procuradora Maria Cristina Foz Mendonça, um desafio que deu certo; o livro vai sair e vai mostrar a realidade de vida de todas as detentas, ali do Presídio Feminino (Prefem)”.

 Revista e cd

 Como é apaixonado por Gay Talese, acredita, como ele, que o jornalismo nunca vai deixar de existir. Prepara a segunda edição da sua revista “Os mais admirados de Sergipe” -que vai homenagear as personalidades de Sergipe. “Sou um lunático, um sonhador, gosto de fazer e criar é o meu oxigênio”.Tem também no prelo mais um livro de poesia, “Coração de Chopin”, que está buscando patrocínio. Além disso, acaba de lançar o CD “M.E.”, poemas declamados pelo próprio autor, que distribuigratuitamente. “Ninguém compra poesia”.

 Política

 Araripe Coutinho acredita que precisa tomar parte, ser um agente político de fato. “Amo a política, mas não como profissão, como possibilidade de fazer algo, por isso que estou sempre envolvido. Mas é tudo muito provinciano ainda, não adianta querer mudar um processo de séculos. Eu me considero um iluminado. Tenho ideias divinas, acho que posso contribuir com obras de prospecção, não é para o Brasil, não!É para o mundo”.

 Amores

 “Há muito me livrei da concupiscência da carne. As pessoas não querem saber de amar de verdade. O homossexual é muito destituído de um futuro com alguém de nível. Digo nível em relação ao compromisso verdadeiro com o outro. As pessoas, em sua maioria, querer explorar o parceiro, não querem crescer juntas, há sempre um lado mais sacrificado”.

 Deus

 “Deus é uma superfície de gelo ancorada no riso”. A frase é de Hilda Hilst. “Deusé minha fonte maior. Sou um homem espiritualizado ao extremo. Acredito no sobrenatural. Sou pura sensibilidade e intuição. Deus me toca todos os momentos. Fui raptado por disco voador, quando era criança, no Rio de Janeiro. Deste dia em diante, fiquei impossível”.

 Mundo

 “O mundo acabou. As pessoas perderam o afeto em tudo. Resta a solidariedade que tem que vir de cada pessoa. Não dá pra ser feliz num mundo tão desigual, em todos os sentidos.Suporto tudo, menos injustiça e egoísmo”.

 Sonho

 “Morar como Sthephan Zweig numa casa em Petrópolis e escrever o que eu gostaria e sei que posso.Desligar todo o contato tecnológico e viver para escrever e ler e sentir”.

 Dores

 “Sempre muitas. Profundas. Imutáveis. Mas sempre com humor- o humor é tudo”.

 Cinema

 “Assisti a um filme, dia desses:‘A Separação’. Estou ainda atônito. Adoro os franceses. Amo tudo de Ang Lee, souum aficcionado por Woody Allen”.

 Felicidade

 “Não existe. A não ser que você seja desinformado e ache o mundo um parque de diversão. Caso contrário, você precisa mergulhar na vida como se fosse na morte, de descobrir o significado de estar participando deste momento aqui no planeta”.

 Futuro

 “Ainda sei que vou surpreender. Não sei se na Literatura ou no palco ou em programa de TV nacional. Sinto-me subaproveitado. Num país de Ana Maria Braga e Ratinho, pessoas como eu ficam no anonimato, até que um dia estouram”.

Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br

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